La bellissima sabbia

La bellissima sabbia

Olhos penetrantes, cujo alvo me tem. Seu dono, desnudo de pudores, me devora sem me tocar. Toque este que imagino ser demasiadamente firme, a julgar pelos seus músculos tesos. A pele iluminava a paisagem de meus olhos, irradiando luz da alvorada em plena tarde.

Cada átomo do meu ser vibrava diante daquela visão. O contraste de seu cabelo escuro com a pele fazia o sangue borbulhar em minhas entranhas. Eu precisa me aproximar para que meus olhos fossem capazes de avaliar cada centímetro daquela perfeita miragem no meio da areia da praia.

Seu calção branco, de algum tecido que sequer tentei reconhecer, estava molhado, mas sem deixar sua pele coberta à mostra conforme seus passos curtos e lentos o afastava das ondas, como um tritão recém descobrindo a consistência da terra macia. Toda sua musculatura bem desenhada brilhando, despertando em mim uma sexualidade há muito não experimentada.

Seu maxilar retilíneo enquadrava um rosto perfeito, de modelo da Calvin Klein. A barba, começando a crescer da pele sem marcas, coloria aquela estátua grega esculpida em mármore, rodeando dois pequenos cortes avermelhados que, contraídos, recobriam uma dentição branca e completa, como a de um predador voraz. Logo imaginei tuas mordidas por meu copo, já em cólicas de desejo.

Cheguei mais perto e notei a areia espalhada pela face, como o gozo deixado pelas ondas do mar, salpicada desde seu cabelo úmido até o pescoço de circunferência perfeita para meus braços nele se entrelaçarem. As sobrancelhas marcantes realçavam a cor de seus olhos intumescidos, como os de uma fera acuada. Logo imaginei que ele estava faminto.

A apenas quatro passos de mim, refletindo a irradiação da luz solar sobre a areia, aqueles rasgos avermelhados se abriram em um sorriso puxado para o lado, aumentando apenas o volume de sua bochecha esquerda. Os olhos castanhos esverdeados não se esconderam sequer um milímetro sob as pálpebras com cílios preponderantes, que só ressaltavam ainda mais o poder de vigilância de seu animal interior.

Ao observar seu sorriso em minha direção, todo meu corpo perdeu compasso. Meus esterocílios esqueceram de suas funções por um instante enquanto meus joelhos perdiam consistência, fazendo me sentir como um pedaço de gelatina escorrendo por entre minhas roupas ao tentar dar mais um passo em vão.

Minha queda só não foi maior e real porque meus ouvidos capitaram o nome dele, Daniel, emitido por vibrações femininas desconhecidas, como o canto de uma mulher-peixe, logo atrás de mim, que fizeram o deus grego apertar o passo ao mesmo tempo que minha face se enrubescia em uma miscelânea de vergonha e decepção enquanto ele passava por mim, ressaltando os músculos do antebraço e deixando sua axila máscula à vista ao erguer a mão esquerda até os cabelos para arrumar as mechas reviradas pela água do mar.

Para mim, apenas restou a belíssima areia branca da praia sob meus pés, que me impediu de afundar em minhas infrutíferas ilusões ao me estatelar enquanto o sensual filho de Posêidon encontrava sua sereia, a envolvendo nos fortes braços de modo que suas costas largas me fizessem recordar da muralha de um castelo medieval que protegia sua rainha.

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